terça-feira, 29 de abril de 2025

Aquilo que não teve funeral.

 Você me diz pra não lembrar das coisas assim,
mas minha mente ecoa somente as ruins:
“eu não te devo nada.”
“você não é minha responsabilidade.”
“me deixa viver.”

Como poderia me lembrar que estamos melhorando
se eu ainda estou preso na mesma cova?

Quando tudo que me rodeia de você
— TikTok, beijos, encontros, músicas de verão —
é essa sensação de perder o chinelo favorito por conta da chuva.
E eu engulo seco o nome dela na garganta,
como se fosse pecado lembrar que ela existe agora.

Eu te amei como quem protege um bairro inteiro da chuva.
E hoje, nem passo mais naquela rua,
porque Cornelia Street virou cena de crime.
E o sangue é meu.
E o diabo sorriu bonito
enquanto você dançava com outra
no inferno que chamam de festa.

Não quero que você sinta culpa.
Nem eu quero viver na culpa que me dei.
Mas porra, ainda dói.
E se parece com amor, então foda-se, ainda é amor.
Mesmo que ninguém queira enterrar o corpo dos nossos cinco anos.

No final,
não é sobre quem é o vilão —
é sobre quem ainda não aprendeu a fechar a cova
mesmo com o incêndio já consumindo tudo:
as fotos, as memórias, as lembranças.
E eu, desesperado, tentando carregar tudo nos braços
pra me curar.

Mas se curar do quê,
se você nem está errada?
Talvez eu só esteja preso
no amor que não teve funeral.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Renascente

Eu te escrevo agora,
quando a cama ainda tem seus espinhos afiados,
quando o ruim ainda é um velho amigo,
mas, no fundo, sei que você vem.

Você vai se alinhar com os meus desejos mais profundos,
e eu te espero sem pressa,
um amor que não corre,
o bilhete dourado que você encontrou no salgadinho favorito.

Grito para o mundo que não sou mais como antes (mesmo ainda sendo),
na tentativa de tornar todas minhas palavras em realidade,
para, quando você vier, eu estar pronto.

E se você vier, não será porque eu precisei,
mas porque, por dentro, já estou inteiro,
mesmo com as falhas, com os buracos no peito,
com os cacos de vidro que ainda me cortam e me lembram de como é ser vivo.
E você chegará para amar, inovar, renascer com tudo isso dentro de mim.

Seremos dois corações, dois mundos,
mas sempre com a certeza de que nenhum deles precisa do outro para ser completo.

Porque, agora, a paz já é minha,
a dor virou lembrança,
e a tempestade que me fez,
se transforma na calma que eu finalmente conquistei sozinho.

A metade que me quer inteiro.

Se não deve,
por que procura?
Por que volta com os olhos de antes,
como se eu ainda fosse abrigo?

Por que deita?
Por que encaixa o corpo como quem nunca partiu?
Por que beija sem pressa,
com delicadeza,
como se o tempo não fosse o inimigo?

Por que quer atenção, entrega, pele,
se depois veste o silêncio
e diz que nada prometeu?

Me chama com o corpo,
mas jura que é só o costume.
Me prende no gesto,
mas nega o sentimento.
Me busca inteiro,
mas não quer ser metade.

E mesmo depois,
de outra boca,
outro cheiro,
outro gosto,

Você ainda vem buscar abrigo em mim,
com lábios que já não sabem se beijam 
ou me informam o quanto não me deve nada.
Como se meu corpo fosse tua penúltima casa,
como se eu fosse o erro que você insiste em amar.

Você se encaixa,
Mas não diz nada.
como quem suplica perdão sem coragem de falar.
Só morde o silêncio e me pede beijos.

Então me diz:
se é livre o teu corpo,
se é livre a tua boca,
por que ainda volta?
Por que me prende nesse vai-e-vem sujo,
nessa dança torta entre querer e negar?

Por que planta esperança em terreno abandonado?
Por que finge que não sente,
quando a tua pele inteira treme no meu abraço?

Se és livre, voe.
Mas não esqueça:
no dia que teus pés cansarem,
eu já terei virado floresta,
crescido espinhos,
me reinventado onde você só soube destruir.

Não serei mais abrigo.
Serei tempestade.
E você...
será só mais uma sombra,
assustada,
tentando se esconder da força que perdeu.

Floresta de Cacos

Num frio gélido que percorria meu corpo,
sem velas, sem lanternas, sem esperança,
busquei — desesperado — a dança
entre a razão e a emoção,
entre o cuidado e o brilho,
entre o silêncio e o drama.

O vento atravessava as árvores do meu peito.
Meu peito batia forte,
feito tambor em guerra,
feito amor que nunca soube ser manso.

Quente como o fogo que queimou a última molécula da minha sanidade,
vazio como buraco fundo,
cacos de vidro espalhados em todo lugar —
e eu, como um cirurgião desesperado,
tirando um a um do meu coração, por sua causa.

Está doendo, e isso é um elogio.
Porque eu tô vivo, porra.
Porque eu vivi com você,
e isso me fez forte pra caralho.
Coragem pra te amar,
coragem pra arrancar os cacos.

Me falta coragem pra seguir...
seguir sem você.
mas eu não sei como.

Então eu entrei na floresta do meu peito —
perdido, rasgado, sem mapa nem luz —
e deixei os espinhos me cortarem,
e deixei os ventos me jogarem contra o chão.

Chorei até as árvores aprenderem meu nome.
Berrei até as pedras entenderem minha dor.
Cavei com as mãos sangrando um novo caminho,
mesmo sem saber pra onde ele vai dar.

Porque meu peito é mato fechado,
meu amor é animal selvagem,
minha dor é raiz que quebra pedra.

E eu —
foda-se, eu —
ainda estou vivo pra caralho.
Ainda estou aqui.
Ainda sou floresta, porra.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Cais de partida

Você me beijou com gosto de despedida,
e mesmo assim teve coragem de dizer que me ama.
Chorou no meu peito como se fosse o seu,
dançou comigo como se o fim fosse poesia.
Mas não era.

Você sabia.
Sabia exatamente o que estava fazendo
quando respondeu outra garota
enquanto eu ainda sangrava por você.
Sabia que eu te procurava no escuro,
e ainda assim deixou a porta aberta pra alguém entrar.


Você me chamou de amor
com a mesma boca que confundia outros corações.
E eu? Eu me calei.
Me mantive firme.
Firme demais pra quem só queria cair nos seus braços
sem se estilhaçar.

Eu não sou piada.
Não sou pausa entre seus desejos.
Não sou consolo de fim de festa.

Eu sou quem ficou quando ninguém mais ficaria.
Eu fui cais de partida,
e você sempre soube zarpar.

E por mais que doa,
eu tô aprendendo a te deixar ir.
Não porque eu quero,
mas porque não dá mais pra me deixar ficar.

Não era pra ser assim

Um abraço que não consola, só confirma o fim.
Mas o seu? o seu consolou.

Dançamos no ritmo da música e o meu coração se moveu até o céu, procurando um encontro. 
Ele encontrou? Te procuro tocando enquanto a gente não se encontra em nós mesmos. 

O som do choro, abafado, quente, denso. 
Você virou e disse que não era pra ser assim, que não deseja isso nem pro seu arqui-inimigo. 

Eu sei, meu bem. 
Mas fazer o quê, se te procuro? 
Eu tento correr contra essa maré e ela me carrega — 
com você nos olhos e o vazio no peito. 

Então eu fico aqui, parado no meio da sala, 
onde seu cheiro ainda dança em mim. 
E a música parou, mas o eco não.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Devolvo

Devolvo tudo.

As promessas que você quebrou com o riso nos lábios.

As noites em que eu fiquei sem dormir enquanto você fazia show para a plateia errada

Os ‘eu te amo’ que você disse com gosto de mentira.

A porra da saudade que você usava como coleira em mim.

Devolvo até as lágrimas — agora secas, mas com gosto de vômito.


Você quer dançar?

Então dança, porra.

Mas não volta pra esse peito.

Não volta pro terreno que você fez questão de destruir e depois chamou de jardim.


Você não é flor.

Você é veneno que aprendeu a parecer perfume.

E eu bebi de olhos fechados, achando que era amor.


Mas agora é só nojo.

E cansaço.

E esse grito preso que, juro por tudo,

um dia vira silêncio.


E quando virar,

você vai sentir falta até do meu ódio.


Lírio nenhum

Com um lírio nas mãos.

Sem nenhuma pétala.

Seco. Morto.

Mas ainda assim eu seguro.

Firme.

Como quem segura o que não volta mais.

Como quem segura o próprio erro.

E olho pra ele,

esperando um milagre ridículo —

um resto de vida,

uma mentira que me convença a continuar.


Desci pro jardim feito um maluco.

Com o coração batendo na garganta,

com a unha cheia de medo,

com o corpo tremendo de raiva.
Cavei.

Cavei como quem quer vomitar tudo.

Cavei como quem quer voltar no tempo.


Pra te plantar de novo.

Como se lírio fosse semente.

Como se você ainda fosse minha.

Como se eu ainda tivesse alguma chance.

Como se amor brotasse só porque eu quero.


Por favor. Porra. Por favor.

Você tem que florescer.

Tem. Que. Florescer.


E talvez eu devesse te jogar num outro jardim.

Longe de mim.

Longe desse solo fodido,

feito de tudo que sobrou da gente.

Talvez você floresça melhor lá.

Mas eu não deixo.

Eu não deixo.

Eu não sei te soltar.


Então só floresce, caralho.

Mesmo que seja ódio.

Mesmo que não seja por mim.


Porque meu mundo ainda é jardim.

Mesmo que seco.

Mesmo que quebrado.

E ele ainda tem

o teu nome cravado no chão.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Meu exílio milionário em Marte.

 (patrocinado pelas minhas decepções)

E num ato de loucura, pensei "Que eu exploda em Marte"
bancada por cada "Você não gosta de mim de verdade"
Cada "Eu nunca sei me expressar pra você"
Cada silêncio que gritou mais alto que mil palavras

Me instalei em Marte com wi-fi de promessas falhadas
Um colchão feito de desculpas
(Do dia em que ela se diluiu nas próprias sombras)
Como um cometa que passou sem deixar rastro.

A paisagem é vermelha como meu rosto
De raiva, vergonha, ou amor demais —
Difícil saber aqui, onde a gravidade é leve
mas a saudade pesa toneladas.

A dor se acumula como poeira cósmica,
Cada lembrança se torna um eco distante
Nas paredes do meu refúgio solitário.
Estou em Marte, e o que resta é o espaço vazio
Entre o que fomos e o que nunca seremos.

Olho para o céu, mas não há sinais,
Apenas estrelas distantes, como promessas não cumpridas.
Talvez um dia, um foguete apareça,
Ou talvez eu me canse de esperar,
E perceba que a viagem que eu precisava fazer
Era a única que eu já estava fazendo: a minha.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Silencio que grita.

 "O que era certo, agora é raso
e não justificou,
é o nosso final que chegou."

Olhei para o céu — estrelas brilhantes.
Voltei o olhar pra ti, com um sorriso tímido,
sem empolgação —
era o que eu tinha feito pra você:
pendurei cada estrela como promessa,
teu nome escrito na escuridão.

Mas você queria luz,
fogos de artifício,
bombas, explosões —
um amor que tira o ar,
queima o peito,
e eu era só silêncio,
calmo demais pra ser espetáculo de fim de ano.

Um estouro esperado
que, no fundo, nem eu, nem você
acreditávamos que viria.
A verdade é que meu amor
era aquilo ali —
e a única coisa que
estronda, era no meu peito,
repetindo o que você disse:
"é, obrigado por me lembrar mais uma vez que a gente não dá certo."

E talvez um dia,
você entenda
que o silêncio também grita.

Resposta para o seu.

Não sei pintar, mas tentei.
Com resto de tinta no meu godê —
pincelei, pincelei, e não me encontrei.
Te olhei sangrar vermelho, viscoso demais,
e quis limpar.
fui tolo:
eu não era capaz.

Nós dançamos juntos,
mesmo quando você diz que deveria saber 
que não era eu — mas era, eu era seu.
não há respingos em telas em branco
e sim, um quarto cheio de tintas abertas pela metade, 
coisa que não preencheu teu coração.

E talvez fosse dois, quando deveria ser um,
e talvez eu tenha amado mais o gesto do que o sentido.
ou tenha amado tudo, sem saber nomear nada,
sem sequer cogitar moldar algo.

Mas amei, com meu lado menos pintor,
Te penso, te sinto, nos respingos.
No que ficou nas minhas mãos, nas suas.
Você é obra que me afogou.
E mesmo agora,
Te vejo nas cores que carrego.
E em todas que ainda não sei como usar.

Não —
Você nunca foi rachaduras em olhos fundos,
Nunca foi mármore que grita quando tocado
Só era tudo,
enquanto eu... 
Ainda era quase.

//ainda de coração na mão,
aquele que ainda é um pouco seu

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Vinil.

Lembro de cada tom de ti me cantando Amor Perfeito,

de como tudo brilhava ao seu redor naquele dia.

Tua pele cheirosa e quente que grudou na minha,

cheiro que ainda dorme no meu travesseiro,

um fantasma de ontem que minhas mãos não alcançam mais.


Guardei tua voz em um canto da mente,

e ela toca quando menos espero,

como um vinil riscado,

saltando entre as mesmas palavras repetidas,

voltando sempre ao mesmo suspiro arranhado,

um eco incansável de tudo que já fomos e somos.


O quarto todo estremece num toque frio,

cheio de poeira, marcado por dedos e ausência,

como fotos antigas esquecidas no fundo da gaveta.

Minha coleção de memórias nossas,

empilhadas como discos velhos.


Um som abafado, rouco, mas cheio de alma,

me preenche, me esvazia, me derrete—

em você.

Cada faixa dessa lembrança toca um pedaço de mim,

e me vejo preso no mesmo acorde, no mesmo refrão,

como se o tempo se recusasse a girar na vitrola da vida.


Tento seguir, mas a agulha do vinil insiste no mesmo começo:

Teu nome, teu nome, teu nome.

Rodando, riscando, ecoando.

E no fim, só o chiado da saudade.

Mentiras de um coração com saudade.

Tentando imaginar como seria se não houvesse nós dois.
Mas há. Sempre houve. Mesmo quando tento apagar.
E mesmo chovendo lá fora, eu sei que o céu é azul.
Sei da mesma forma que sei que não há como não ter existido nós dois.
Sei como se sabe de cor um nome que já não se pode dizer.

E a chuva desce como um véu, denso, úmido, pesado.
E quem foi que disse que é fácil?
Se deixei meu peito em casa, casa que não tenho mais,
casa que nunca foi feita de paredes,
mas de mãos, de pele, de olhos que agora são outros.

Deixei você sair antes de ir embora
e agora já não há mais lar algum.
Será que peguei uma passagem de trem apenas de ida?
Sozinho, gritando que este não era meu caminho,
meu caminho é para casa, mas que casa?

Coração errante que bate em falso
dizendo que ainda há uma chance.
"Corra, você consegue. Ela é sua, sempre foi sua."
Mentiroso. Mentiroso. Mentiroso.
Se é tão minha, cadê a porra do sol no meu dia de chuva?

O sol se esconde por me amar,
por não conseguir me amar.
Eu preciso de respostas.
Eu preciso que essa chuva passe.
Preciso do meu coração de volta.
Preciso parar de ouvir o eco que restou de você em mim.
Mas a chuva continua.
E o sol, se ainda existe, não me responde.

Minha casa tinha calor de mãos,
cheiro de pele depois da chuva,
olhos que seguravam os meus para que eu não me perdesse.
Agora as mãos são frias,
a pele é distância,
os olhos desviam.
E ainda assim, meu peito insiste:
"Corra, volte, ela está lá, sempre esteve."
Mentiroso. Mentiroso. Mentiroso.

Verão Italiano.

O barulho do sino da vila ao longe, o azulejo frio sob os pés descalços, na tarde quente em um verão na Itália. Com teu olhar refletido n...