segunda-feira, 28 de abril de 2025

Floresta de Cacos

Num frio gélido que percorria meu corpo,
sem velas, sem lanternas, sem esperança,
busquei — desesperado — a dança
entre a razão e a emoção,
entre o cuidado e o brilho,
entre o silêncio e o drama.

O vento atravessava as árvores do meu peito.
Meu peito batia forte,
feito tambor em guerra,
feito amor que nunca soube ser manso.

Quente como o fogo que queimou a última molécula da minha sanidade,
vazio como buraco fundo,
cacos de vidro espalhados em todo lugar —
e eu, como um cirurgião desesperado,
tirando um a um do meu coração, por sua causa.

Está doendo, e isso é um elogio.
Porque eu tô vivo, porra.
Porque eu vivi com você,
e isso me fez forte pra caralho.
Coragem pra te amar,
coragem pra arrancar os cacos.

Me falta coragem pra seguir...
seguir sem você.
mas eu não sei como.

Então eu entrei na floresta do meu peito —
perdido, rasgado, sem mapa nem luz —
e deixei os espinhos me cortarem,
e deixei os ventos me jogarem contra o chão.

Chorei até as árvores aprenderem meu nome.
Berrei até as pedras entenderem minha dor.
Cavei com as mãos sangrando um novo caminho,
mesmo sem saber pra onde ele vai dar.

Porque meu peito é mato fechado,
meu amor é animal selvagem,
minha dor é raiz que quebra pedra.

E eu —
foda-se, eu —
ainda estou vivo pra caralho.
Ainda estou aqui.
Ainda sou floresta, porra.

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