por que procura?
Por que volta com os olhos de antes,
como se eu ainda fosse abrigo?
Por que deita?
Por que encaixa o corpo como quem nunca partiu?
Por que beija sem pressa,
com delicadeza,
como se o tempo não fosse o inimigo?
Por que quer atenção, entrega, pele,
se depois veste o silêncio
e diz que nada prometeu?
Me chama com o corpo,
mas jura que é só o costume.
Me prende no gesto,
mas nega o sentimento.
Me busca inteiro,
mas não quer ser metade.
E mesmo depois,
de outra boca,
outro cheiro,
outro gosto,
como se eu fosse o erro que você insiste em amar.
Você se encaixa,
Mas não diz nada.
como quem suplica perdão sem coragem de falar.
Só morde o silêncio e me pede beijos.
Então me diz:
se é livre o teu corpo,
se é livre a tua boca,
por que ainda volta?
Por que me prende nesse vai-e-vem sujo,
nessa dança torta entre querer e negar?
Por que planta esperança em terreno abandonado?
Por que finge que não sente,
quando a tua pele inteira treme no meu abraço?
Se és livre, voe.
Mas não esqueça:
no dia que teus pés cansarem,
eu já terei virado floresta,
crescido espinhos,
me reinventado onde você só soube destruir.
Não serei mais abrigo.
Serei tempestade.
E você...
será só mais uma sombra,
assustada,
tentando se esconder da força que perdeu.
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