segunda-feira, 28 de abril de 2025

A metade que me quer inteiro.

Se não deve,
por que procura?
Por que volta com os olhos de antes,
como se eu ainda fosse abrigo?

Por que deita?
Por que encaixa o corpo como quem nunca partiu?
Por que beija sem pressa,
com delicadeza,
como se o tempo não fosse o inimigo?

Por que quer atenção, entrega, pele,
se depois veste o silêncio
e diz que nada prometeu?

Me chama com o corpo,
mas jura que é só o costume.
Me prende no gesto,
mas nega o sentimento.
Me busca inteiro,
mas não quer ser metade.

E mesmo depois,
de outra boca,
outro cheiro,
outro gosto,

Você ainda vem buscar abrigo em mim,
com lábios que já não sabem se beijam 
ou me informam o quanto não me deve nada.
Como se meu corpo fosse tua penúltima casa,
como se eu fosse o erro que você insiste em amar.

Você se encaixa,
Mas não diz nada.
como quem suplica perdão sem coragem de falar.
Só morde o silêncio e me pede beijos.

Então me diz:
se é livre o teu corpo,
se é livre a tua boca,
por que ainda volta?
Por que me prende nesse vai-e-vem sujo,
nessa dança torta entre querer e negar?

Por que planta esperança em terreno abandonado?
Por que finge que não sente,
quando a tua pele inteira treme no meu abraço?

Se és livre, voe.
Mas não esqueça:
no dia que teus pés cansarem,
eu já terei virado floresta,
crescido espinhos,
me reinventado onde você só soube destruir.

Não serei mais abrigo.
Serei tempestade.
E você...
será só mais uma sombra,
assustada,
tentando se esconder da força que perdeu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verão Italiano.

O barulho do sino da vila ao longe, o azulejo frio sob os pés descalços, na tarde quente em um verão na Itália. Com teu olhar refletido n...