segunda-feira, 5 de maio de 2025

Morada.

No breu do meu mato,
no lodo do fundo dos lagos,
entre folhas que choram sem fazer barulho,
quando confundiram galhos com grades,
e silêncio com abandono.
Seus olhos, faróis em meio à bruma,
não pedem perdão.

Não vai vir voando,
nem trazendo desculpas esfarrapadas em seu bico 
Vai com patas no chão,
olhos firmes que furam a alma
e quando os ventos a desafiam,
ela simplesmente as enfia nas raízes.

Meu corpo é tronco.
Crescido à força,
curvado pelo peso de asas que pousaram
sem nunca querer ficar,
mas para ela, será Amazônia.

Lambe minhas feridas com língua de sol,
sem se perguntar como se machucou.
Bicho que conhece o cheiro da noite,
que não estranha minha sombra,
nem se assusta com meu rugido contido.

Não canta pra me encantar. 
Não vai precisar mais reter as tempestades,
nem podar os galhos quebrados, não vai pousar,
vai habitar em cada detalhe da floresta,
tem patas, tem garras,
tem coragem de entrar onde outros só quiseram passar.

E o cárcere verde,
sempre terá algo para te lembrar que:
Floresta não é enfeite, é morada.

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