domingo, 4 de maio de 2025

Incendiar

Fósforo riscado num dia de chuva.
Sigo tentando — riscar e riscar —
no coração quente da madrugada.
Minha lareira com poucas madeiras,
e a porra do fósforo entre os dedos.
Cama virada. Porta batendo. Olho molhado.
E não acendia.

Me entreguei como quem se entrega ao trovão,
sabendo o estrondo.
Como quem quebra uma parede
sabendo o buraco que vai ficar.
Destruição. Caos. Amor?

A gente nunca foi feito pra ser leve.,
Sabíamos ser fogo pra acender cigarro em corpo suado,
pra jurar amor com gosto de mentira bonita na língua.
Com gosto de outra.

Fui tua porra.
Teu suor.
Teu gozo maldito.
E depois?
Depois virei cinzas.
Ausência.
Prisão.

Amores não vestem alianças — vestem cicatrizes.
Talvez a gente tenha nascido pra incendiar, não durar.
E isso não é menos bonito.
Só é verdade.

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