Com um lírio nas mãos.
Sem nenhuma pétala.
Seco. Morto.
Mas ainda assim eu seguro.
Firme.
Como quem segura o que não volta mais.
Como quem segura o próprio erro.
E olho pra ele,
esperando um milagre ridículo —
um resto de vida,
uma mentira que me convença a continuar.
Desci pro jardim feito um maluco.
Com o coração batendo na garganta,
com a unha cheia de medo,
com o corpo tremendo de raiva.
Cavei.
Cavei como quem quer vomitar tudo.
Cavei como quem quer voltar no tempo.
Pra te plantar de novo.
Como se lírio fosse semente.
Como se você ainda fosse minha.
Como se eu ainda tivesse alguma chance.
Como se amor brotasse só porque eu quero.
Por favor. Porra. Por favor.
Você tem que florescer.
Tem. Que. Florescer.
E talvez eu devesse te jogar num outro jardim.
Longe de mim.
Longe desse solo fodido,
feito de tudo que sobrou da gente.
Talvez você floresça melhor lá.
Mas eu não deixo.
Eu não deixo.
Eu não sei te soltar.
Então só floresce, caralho.
Mesmo que seja ódio.
Mesmo que não seja por mim.
Porque meu mundo ainda é jardim.
Mesmo que seco.
Mesmo que quebrado.
E ele ainda tem
o teu nome cravado no chão.
 
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