quinta-feira, 20 de março de 2025

Morangos mofados.

Morangos mofados no meu jardim,
que se proliferam para as outras frutas,
como uma praga—
folhas amareladas,
murchas. Opacas. Sem vida.

Vermelhos que se desfazem,
como pétalas murchas, caindo ao chão,
frutos outrora vivos, agora secos,
como promessas que o tempo corroeu.
O vento que passa, leva tudo,
enchendo o jardim de nada,
um beija-flor que já não vem,
deixando o doce virar amargo.

Nem o sol me toca mais quando estou no jardim,
sombras que me lembram do que poderia ter sido.
Mas não foi.
Cheio de nuances, olho para os morangos mofados,
invadindo o meu jardim e roubando a beleza de mim.

Tantas esperanças para nós,
tantos anos me dedicando,
para, no final, a porra dos meus morangos mofarem,
no meu jardim, consumindo tudo.

Agora, vou ter que jogar toda essa merda fora,
arrancar o que restou, deixar a terra seca,
para que nada mais cresça aqui.
Nunca mais quero morangos no meu jardim.
A tristeza agora é raiz, e no fim,
o silêncio do meu jardim é o único eco que me resta.
O ciclo que se quebra,
o fim de mais uma tentativa.

Cidade grande.

Cheguei.

A cidade grande me engoliu,
prédios altos como monstros de vidro e aço,
fumaça suja me enche os pulmões,
e o barulho—
o barulho é um grito que não cessa.

Ainda assim, algo brilha.
Algo aqui me arrasta.
Euforia.
Euforia que me renova, me explode.

Garoto do interior,
sou agora só um pedaço,
uma peça nesse caos,
pronto para tudo—
dancemos, então.

Mas eu?
Quem sou?
Essa cidade me tomou.
E eu a ela.

Euforia.
Euforia, onde me perdi?
Eu queria ser mais que um eco.

Espectro, fantasma.

 Caminhava.

Noite.
Vento gelado.
Garganta presa.

Procuro—
espectro,
fantasma,
sombra que não me larga.

Fim?
Não há.

Último brilho antes do colapso?

À beira do abismo,
olhei.

Nosso mundo ainda cintilava,
mas era só reflexo—
uma beleza que se desmancha,
ou o último brilho antes do colapso?

segunda-feira, 17 de março de 2025

Ampulheta Furada

Relógio. Tic-tic. Cinco anos.
Anos que se esvaziam de mim.
Uma ampola de areia, cada grão, uma memória.
Mas há um furo. Um furo por onde escapou o sonho que eu tinha.

Tentei tampar o furo com as mãos, mas era inútil.
Quanto mais eu tentava, mais a areia fugia, zombando da minha pressa – pressa em te ter.
O relógio não tinha pressa, nem piedade. Tic-tic, tic-tic.
Só mais um alguém perdendo o que um dia foi tudo.

Se eu parar de olhar para a ampola, se eu parar de ouvir o som do relógio,
o tempo deixaria de me roubar?
A ampola deixaria de pingar?
E eu... aprenderia a parar de chorar?

Reflexo Ausente

O espelho me olhava de volta. Mas tudo que eu via era o vazio.
O vazio que você deixou ao partir, numa tarde ensolarada – ironicamente clara.
Esperei verdades, aquelas que o reflexo deveria devolver. Mas ele só me devolveu ausências.
O que falta em mim que encontrei em você?

O Tempo Dissolve

O tempo, nada paupável,  
que escorre pelos meus dedos,  
o céu estrelado e a lua.

Uma mulher, eu não a entendo, nem ela me compreende.  
Um tanto como o tempo, nada paupável,  
que escorre pelos meus dedos,  
como quem sente uma fome estranha,  
uma sensação de pertencer,  
mas nada o tempo pertence.

Então, eu a vejo ir,  
no mar escuro, refletindo as fases da lua,  
fases mostradas a mim  
nos momentos mais pessoais.

E, de repente, o vazio me envolve,
como uma névoa fria que me toma sem aviso.
A dor é a única companhia,
e o mar, agora, já não reflete mais o brilho da lua, já não consigo mais ter as estrelas
Restam apenas as sombras,
que, lentamente, me devoram.

Espelho D'Água

Há tamanhas ondas num oceano,  
que eu, tão pequenino, morro de medo ao entrar.  
Tu seguraste minha mão,  
para que eu pudesse confiar em você.  
Ah… o mar se revoltou.  
Ali não era para nós.

Você me disse, com olhos animados,  
que as águas eram apenas um reflexo da alma.  
Mas o céu estava distante,  
e o mar – esse mar espelho da alma –  
se estilhaçou em mil pedaços  
que eu mal pude tocar.

Havia a lua, hábil em me seduzir,  
mas não me avisou da tempestade.  
Agora, eu sou a própria onda,  
que se quebra a cada movimento,  
impossível de juntar.  
Nada mais se repete,  
nem mesmo o seu nome.

Eu tentei entender  
os labirintos de seu olhar,  
mas me perdi na correnteza.  
E você?  
Você se afasta, mas age como se nunca quisesse ter me soltado.  
E eu, naufraga, só encontro ecos  
de uma promessa que se afasta para longe.

O que não chegou

 As pétalas esmagadas no chão.
Primavera, eu acho. Ou só um outono atrasado?
Faz frio ainda. O amargo do whisky ficou preso na garganta.
Você não chegou. Eu deveria ter esperado menos.

O telefone piscou uma vez. Depois apagou.
Você resolveu ligar ou era só uma cobrança?
Levantei tarde. O café esfriou.
As flores lá fora também.

Pensei em te escrever, mas minha mão gelada.
Escrevi teu nome no vidro embaçado.
Logo apaguei.

Deixa pra lá. Já nem sei mais em que estação estamos.

Uma Arlinda Mulher

 Eu vou me esforçar tanto que você vai lembrar como eu era.
Ou melhor, como ainda posso ser: o café das suas manhãs.
Aquele café doce e forte, como o amor que você dizia sentir.

Com o sol nascendo e o café já posto,
seremos o casal mais estranho da vizinhança,
dois garotos ouvindo Mamonas Assassinas logo cedo,
tomando café entre as plantas.
Deveras encantador.

E com todo esse esforço para te dar o melhor café da cidade,
para ser a melhor companhia do amanhecer ao anoitecer—
do mau hálito jogado no rosto ao banho colado no fim do dia—
bem, tenho que dizer, o tanto que te quero é matador.

É, meu bem, Uma Arlinda Mulher tinha razão.
Você foi a coisa mais importante, como seus cafés da manhã.
Mas você não é só as referências que coloquei aqui,
referências que só você entenderia.
Você é mais. Você é meu Inspirador.

Te espero voltar para mais um dia.
Estarei sentado às seis, com os gatos no colo,
histórias mal contadas esperando você cansar de me ouvir.
Até o café acabar.
Até você olhar para mim e dizer:
"Eu voltei pra casa, meu amor."

Lacrimosa

Os violinos escorriam, ecoavam aos nossos sons obscenos.
O quarto abafado, e a cada toque, nos perdíamos em um novo planeta, desconhecido.

Na maior sinfonia de Mozart, te vi ali—
olhos fechados, bochechas vermelhas, cabelo bagunçado.
Ópera minha.
Droga, Mozart, me vi em êxtase por essa menina.

Bach me invejaria, garota,
pois contigo, erudita, criamos o maior concerto do mundo.
Com nossas bocas, nossos corpos juntos—
a verdadeira música clássica.

Me dá vontade de te ouvir para sempre,
de guiar teu corpo em ritmo,
ao som do teu gemido.
Ali, me tornei um artista aclamado.

Em nossa orquestra, nosso concerto, nossa ópera,
superei todos os artistas.
Te toquei como realmente alguém se toca.
E ao som da tua música, me explodi em Lacrimosa.

Chaos in Paris

Sentado nesse bar,
bebida e gelo.
Meu estômago revirado,
saudades de você.

De coração na mão,
com todos os meus versos—
versos cheios de você,
maldito turista.

Turista em Paris.
Por você, virei artista.
E na minha mente, fez morada,
morada que tento esquecer.

Mas talvez você seja inesquecível.
E com mais um copo, afogo você,
afogo todas as borboletas que me trouxe.
Você não tinha o direito de me dar tanto e ir embora.

Fui o caos em Paris.
E você, o caos na minha cabeça,
talvez no meu coração.
Espero que também não me esqueça.

Com esse poema,
me despeço de você—
mas não do que me fez sentir.
Não te deixarei somente no meu passado.
Você é alguém que marcou aqui.

De coração na mão, seu Laranjinha.

Tulipa Vermelha

Ter te visto hoje foi mais um dos motivos para sempre ir te buscar no trabalho.
Foi também quando percebi que eu andaria mais vezes na chuva com você, só pra te ver todo ensopado, gritando e chamando meu nome:

"Caralho, Felipe, meu tênis tá muito molhado."

E eu, com o cabelo pingando,
o óculos tão borrado que, se não fosse a sua mão me guiando,
eu definitivamente me perderia naquele estacionamento.

Mas eu me perdi mesmo
quando seus lábios encontraram os meus.
Nunca havia sentido o estômago tão embrulhado.

A roda-gigante perto da gente.
Se não fosse a chuva e a falta de plateia,
tenho certeza que teria aplausos.

Porque talvez sejamos um casal de filme de Hollywood,
perdido por aí,
num roteiro todo embaralhado.

Nosso amor é embaralhado.

E talvez, se eu parasse ali,
como ficamos parados na chuva,
sem saber para onde correr,
sem pressa para sair do frio—

Mas relaxa, Tulipa Vermelha,
ainda temos muitos estacionamentos.
Muitos banhos de chuva.
Pra correr, pra rir, pra nunca sentir frio.

E pra estarmos sempre apaixonados.

Erupcion

 Mi bien, te vi. Ya no me engañas
cuando dices que me quieres,
cuando en tu jardín nada florece
y cuando viajamos a las Bahamas.
 
En Bahamas, me aparto de tu confusión.
Ya no vas a romperme el corazón.
No te vayas, porque ya no soy tuyo.
Ni tu inmensidad me arrastrará.
 
Gracias por todo—
por tu mar, tu cielo, tu tierra.
Me iré antes de que seas tú quien
rompa su propio corazón.
Y con una última canción,
iremos a nuestra última...

ERUPCIÓN.

Manga

Encontrei uma horta bonita, cheia de frutos.
Mas o que verdadeiramente me atraiu
foi a bela mangueira.

Admirei da varanda, até que me veio a vontade:
provar o gosto e dançar contigo, ciranda.

Sol fervente bate nas minhas costas
enquanto eu, garota boba,
admiro os frutos da tua horta.

Mas é o sol que me queima.
Que me desmancha.
Agora, teu beijo me conforta.
Entorta. Suporta.

Mas ei, garota bonita, charmosa,
que me leva pra tua horta,
me diz que me ama.
Que me deseja.

Me conforta. Entorta. Suporta.
Mas me deixa sozinha.
E me desmancha.
 
Como um grão de açúcar
se desfazendo no suco de manga.
Esse teu gosto doce
escorre nos lábios e fode com a minha paz.
Me transporta.

Mas no fundo, eu sei:
doce assim, igual tua manga,
só no paraíso.
Só em Aruanda.

Queria ir pra Bahia com você.

Eu, eufórico como sempre, já tinha deixado as malas prontas.
A gente só ia no final do ano.
Tudo separado, necessário, contado, o coração acelerando.
Mas você se foi antes.

Antes de eu pisar naquela areia, sentir o sol quente de Salvador.
Antes de eu ver o céu estrelado que você prometeu.
Chorei, gritei, senti.

As nuvens de São Paulo não me deixavam ver direito.
E Deus, como eu queria ir pra Bahia com você.
Te admirando.

Acho que você vai pra Bahia sem mim. Pela segunda vez.
E talvez seja melhor assim.
Eu nem gosto tanto de calor mesmo. Nem de céus estrelados.
É… talvez eu goste.
Vou me forçar a não gostar.

Você me fodeu.

Verão Italiano.

O barulho do sino da vila ao longe, o azulejo frio sob os pés descalços, na tarde quente em um verão na Itália. Com teu olhar refletido n...