sábado, 31 de maio de 2025

:(

Sente e desfaz.

como quem dobra a roupa suja

que fede a mentira

e enfia no fundo do armário,

achando que o cheiro não vai subir.

Sente e foge.

como quem acende outro cigarro

pra não ouvir o grito da consciência,

e se afoga na fumaça

porque não tem coragem de encarar o espelho.

Sente e trai.

como quem goza rápido demais

e depois diz que “não foi nada”,

mas foi tudo —

foi a última facada,

foi a última gota.

e eu?

eu sinto e fico,

sinto e engulo,

sinto e quase explodo —

mas não morro mais,

ou pelo menos digo isso pra mim mesmo

até se tornar verdade.

você voltou só pra terminar de destruir, né?

pra garantir que não sobrasse um canto meu sem tua sujeira,

pra me ver rastejando,

de novo, voltando pra você.

mas acabou.

não quero mais entender tuas contradições,

teus discursos de amor com gosto de álcool e gozo de outro.

vai embora com tua liberdade,

com tua “verdade” reinventada a cada porre.

leva tuas promessas, tuas lágrimas de crocodilo, tua cara lavada de quem diz “eu estou sendo muito babaca né?” mas se sente mal por não ter feito que querida

roxo como o vinho que tu bebe, pra esconder o quanto é cruel.

e eu não quero mais ficar olhando pra porra dessa garrafa vazia.

terça-feira, 27 de maio de 2025

As consequências não esperam o café da manhã.

Era manhã de verão,
do jeito que você gostava —
céu limpo, sol brilhando no rosto.
Acordei te procurando na cama
e me lembrei da sua voz rouca dizendo:
“eu não te devo satisfação”.
Sorri, de coração leve,
porque agora realmente faz sentido que não.

Você some,
reaparece e se desmancha,
deixando as responsabilidades
escorrerem lentas pelos dedos,
como fumaça que se recusa a fixar forma.
Mas ainda assim,
quando desperta,
me procura —
como quem chama,
mas não sabe chegar,
como quem quer presença,
mas já nem habita o próprio corpo.

Uma solicitação,
travestida de urgência,
um desespero disfarçado de rotina,
uma súplica que não ousa dizer seu nome.

A manipulação,
antes capaz de dilacerar minhas costelas
e me arrancar o ar,
agora só passa —
leve, fria, como brisa,
como quem esfrega os dedos
num vidro embaçado,
mas não tem coragem de olhar além.

E eu só observo,
com essa serenidade que arde,
como quem sabe,
e mesmo sabendo,
permanece em silêncio,
porque, no fim,
nem se dá ao trabalho,
você está onde deveria estar.

Agora você sai,
chama outras pelos apelidos que eram só nossos,

como quem tenta apagar o passado
com pressa, com corpos impacientes,
que te preenchem, mas sem tampar o que deixei,
como quem acha bonito esse teatrinho de desapego…
mas nem percebe o ridículo.

E eu só observo,
com esse nojo quieto,
meio triste,
meio aliviado,
sabendo que o vazio continua aí —
só você finge que não.
Que patético.

Eu não sou emboscada,
não sou escada,
não sou escudo.
Eu sou o antigo.
Perigo. Abrigo.

E mesmo que eu tenha tentado anos
te mostrar como era ser,
como era estar,
como fazermos acontecer,
você se enganou,
se cegou pra não ver,
conta a história que quer,
procura escapes pra fugir de si mesma.
Mas as consequências…
não esperaram o café da manhã.

Elas chegam com o estômago vazio,
pela falta da janta da noite anterior,
chegam com o amargo ruim na boca,
com ausência de cada palavra,
ausência de afeto —
elas chegam,
e você sequer notou
onde se perdeu.

Mas porra, as consequências...
não esperam o café da manhã.

Por isso, eu soluciono as minhas à noite,
com um gole de gin, para matar toda esperança que tenha você,
tudo que carrega seu nome, seu gosto, seu rosto,
os cinco anos que agora estão entalados
numa tábua de madeira.

E no meu café da manhã,
eu já não espero mais porra nenhuma de você.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Estilhaço

 Você rindo alto, com copo na mão, é gin?

Claro que é gin, alguma delas estaria com você,
olhando pra sua cara bonita que queima como o inferno,
dói como o corte mais profundo.
Eu do outro lado, segurando cada pedaço, cada memória.

“Por que você age assim?”
Me questionei como agia… com cuidado, preocupação, amor?
Não. Essa porra não é mais amor.

Não vem quando deve,
porque você me acusa de maneira herrôndia,
quando bate tão forte que falta ar e vejo estrelas —
forte demais pra ficar,
fraco demais pra não ir,
o vento que insiste em escancarar a janela
mesmo quando você só quer dormir.

Distância que nunca soube medir ou respeitar.

Termino,
desfaço,
desisto —
mas volto,
olho,
falo…
e sei.

Eu sei que você ama.
E você sabe que eu também.

Um jogo sem regras,
onde cada aproximação minha parece invasão.
Mas delas?
Delas são cuidado, são novidade…
ou sei lá mais que porra você quer definir isso.

Queria ser casulo, abrigo, proteção,
mas você só quer voar, sem direção.
Paira ao redor de borboletas vazias,
ilusões passageiras, mentiras fugidias.

E eu? Só fico com o peso do que não tem fim,
um amor quebrado… como a garrafa do teu gin.

E elas? Te admiram, sem saber sequer o que passa dentro de você.
Mas quem sou eu pra dizer… eu também não sei.

Não sobra carinho, nem esperança, nem dança,
só o corte, o vidro, a lembrança.

Você voa — eu me estilhacei.
Você bebe — eu me afoguei.
E agora? Que se foda vocês.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Não pequei em vão.

Chegamos até aqui com a boca cheia de promessas
E os joelhos ralados de tanto pedir a Deus:
“Por favor, que isso dê certo pela tua graça.”

Nós fomos capela, a mais bonita de Roma
Fomos exorcismo, daqueles que acreditam impossivel 
Fomos o vinho na missa e o pecado escondido atrás do púlpito.
Fomos sacrifício,
Fornalha acesa,
e sede num deserto que nem Deus quis molhar.

(e isso — isso foi amar de verdade.)

Mas como tudo no mundo, tudo termina.
Às vezes não em silêncio,
Mas num grito mudo que só quem amou demais escuta.
Tudo cai de um precipício de vinte metros de altura,
Afunda naquela areia que te engana:
Te deixa acreditar que vai segurar,
Mas escorre. sempre escorre.

Ficou o gosto de sal,
De lágrima engolida com reza.
De oração feita demais,
Que nem os santos quiseram atender.
E eu só queria entender:
Por que algo tão bonito tinha que doer tanto?

Você foi o milagre e a maldição.
Uma missa rezada ao contrário.
E mesmo chamuscando a alma,
Voltei. Porque toda dor que vem de você
Ainda parece bênção.

Cada toque teu era uma hóstia envenenada,
E eu comungava sorrindo,
Crente que morrer de amor
Era salvação.
Um amém dito com a boca cheia de sangue.

Você é pecado, definitivamente.
Mas juro por tudo que há de santo em mim:
Eu não pequei em vão, 
E mesmo se tivesse, 
eu seria devoto ao pecado, 

porque sou devoto a você 
e quedas do inferno como a nossa
Nunca são em vão.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Um poema sobre você que eu nem sequer consegui dar um titulo.

Eu olho profundamente nos seus olhos doces.

Mas seus dentes são afiados como os de um tigre.

Às vezes, você é uma estranha na minha cama.

Às vezes, o amor da minha vida inteira.

No fundo do seu coração (eu sei),

eu sou tudo o que você deseja.

Mas na superfície dos seus lábios...


Você me quer tanto como base.

Mas se perde em promessas vazias de outras pessoas.

Quer minha lealdade com a liberdade de sumir.

Quer meus cuidados, meus beijos, minhas coisas…

mas não me quer sendo eu.

Comigo o mundo é menos cruel,

mas eu sou cruel pra sua ideia de mundo.

E essa é sua brincadeira preferida:

ser livre sem pagar o preço da dor.


Você divide o que é seu com mais dois.

Dois rostos, dois corpos,

dois nomes que eu nem quero saber.

E ainda assim, me liga.

Quando quer. Quando sente.

Quando o mundo chacoalha,

e lembra que eu sou a porra da floresta.


Olha nos meus olhos e diz:

"Não quero voltar.

Não quero mais essa relação."

Com os mesmos lábios que pedem pra ficar.

Você se esconde atrás do discurso de liberdade,

mas eu conheço o tom da sua saudade.

É covarde. É torta. Mas é real.

Como tudo o que você tenta negar.


Quer me manter perto,

mas longe o bastante pra não ter que sentir culpa.

Você brinca com o amor como quem fuma o último cigarro da noite,

vendo toda a fumaça ir embora,

tentando parar de mergulhar em pulmões alheios

que nunca souberam te dar fôlego

onde você procura mas não volta,

nem hoje, nem amanhã, nem por saudade, nem por costume.

Por aqui não é sua floresta, é seu cárcere,

E você até tentou, mas nunca conseguiu ficar.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Se você me visse agora.

Se você me visse agora, talvez não reconhecesse o que restou de mim depois de tudo.
Não porque eu mudei completamente, mas porque as partes que sobraram estão tentando aprender a viver sem você.

Eu olho pra trás e não entendo como alguém que me magoou tanto ainda consegue me tocar com um beijo, um olhar, um pedido pra dormir junto. Como se nada tivesse acontecido.
Como se fosse só isso: dormir. Mas não é. Porque quem sente sou eu. Quem pensa, sou eu.
E quando você vira as costas ou solta aquelas palavras que queimam, quem junta os cacos também sou eu.

Escutei da sua boca que eu não falava sobre sentimentos com você
Mas eu escrevia. Eu escrevia como quem sangra, como quem tenta costurar o eco que você deixou com palavras que queimam no peito.
Eu escrevia pra te explicar o que até eu tinha dificuldade de entender, o que eu sequer sabia que iria acontecer.

Eu escrevia pra te mostrar onde doía, e por quê.
E você… chorou.
Você chorou, e por um segundo eu pensei:
“Ela entendeu.”
Mas entendeu porra nenhuma, né?

Me diz: o que você enxerga quando me olha? Porque eu enxergo um abismo entre o que a gente foi e o que a gente virou. Esqueceu do verso, esqueceu do choro, esqueceu de mim. Vejo um furacão com sorriso de sol. Mas sol que queima. Que seca tudo. Que não deixa florescer.
Eu queria que você me amasse como você parece amar nas horas calmas.

Quando deita no meu peito, quando sorri olhando pro Murillo, quando esquece do mundo.
Mas esse amor, se existe, vem sempre com veneno, vem sempre com jogos. E eu tô exausto de me provar, de ser forte, de carregar até o que não é meu.
No fundo, você pode continuar aí, achando que tá tudo bem, vivendo sem peso.
Mas eu? Eu sou quem sente. Quem não esquece. Quem carrega.
E hoje, por mais que ainda doa, eu tô tentando soltar. Porque, porra, eu mereço mais do que isso.

terça-feira, 6 de maio de 2025

Facas e farelos

 Sua boca tem facas.
Facas afiadas. Cerrotes.
Que cortam a cada frase dita,
a cada vez que me mandou calar a boca, e eu permiti.
A cada vez que você me acusou de algo que eu sequer tinha feito.
Eu deveria ter feito?

Você me faz duvidar de mim,
me faz duvidar da minha dor,
da minha bondade.
Eu acho que não te conheço de verdade,
não conheci sequer um dia, porque a que eu conheci nunca diria ao menino de cabelos grandes, com mechas loiras e aparelho:
"Você não é minha responsabilidade."
"Para de show."
"Você é um mentiroso do caralho."
"Me dá paz, por favor."

Gritei. Chorei. Corri e aceitei.
Para que você me olhasse, me amasse,
para que num suspiro de esperança, você mudasse seu jeito de agir.
E o que eu ganhei? Mais gritos.
Eu sou o criador do caos?
Estou recebendo farelos de desculpas.

Chega.
Pega a porra da sua polaroid, a porra da sua garota, a porra do seu ego, e seja lá o que mais você tem aí dentro.
Eu não quero mais essa maçã podre, eu quero uma salada de frutas linda,
que vai ser inteiramente minha.
Você me perdeu, Millane.
Perdeu meu amor sincero, meu cuidado, minha atenção e meu esforço.
Você chegou ao meu limite, e eu cheguei ao seu.
E chega.

Você não tem direito algum.
Meu molde não é pra você.
Agora eu te vejo inteiramente, e sinceramente, eu não gosto do que você é.
Não precisa mais se encaixar, tentar.
Seja livre, voe, voe pra longe, porra,
porque se eu te sentir na minha floresta, o bagulho vai pegar fogo.

Nenhum dos gritos foi desabafo,
foram dores disfarçadas de algo bonito,
manipulação emocional, ilusionismo de carência alheia,
distribuição de caos com cheiro de incenso e promessas vazias com baba de bruxa.

Toda saliva, toda promessa que joguei pro espiritual,
eu encerro e trago de volta pra mim.
Você não vai mais me encontrar no mesmo lugar, no mesmo cheiro,
não vai mais me ver esperando alguma atitude sua, não vai mais existir eco nenhum dentro da nossa própria casa.
Meus sentimentos não vão mais ser um problema, e eu nunca mais, nunca mais mesmo, vou me sentir como um nada.

Vou te dar paz pra sempre, como você sempre quis.
Não tem mais lírio, não tem mais girassol, meu bem,
nem mesmo "baby", sequer existe "nós".
É o fim, e eu vou seguir atrás dele.
Não importa que porra eu tenha que passar para ficar a sós.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Morada.

No breu do meu mato,
no lodo do fundo dos lagos,
entre folhas que choram sem fazer barulho,
quando confundiram galhos com grades,
e silêncio com abandono.
Seus olhos, faróis em meio à bruma,
não pedem perdão.

Não vai vir voando,
nem trazendo desculpas esfarrapadas em seu bico 
Vai com patas no chão,
olhos firmes que furam a alma
e quando os ventos a desafiam,
ela simplesmente as enfia nas raízes.

Meu corpo é tronco.
Crescido à força,
curvado pelo peso de asas que pousaram
sem nunca querer ficar,
mas para ela, será Amazônia.

Lambe minhas feridas com língua de sol,
sem se perguntar como se machucou.
Bicho que conhece o cheiro da noite,
que não estranha minha sombra,
nem se assusta com meu rugido contido.

Não canta pra me encantar. 
Não vai precisar mais reter as tempestades,
nem podar os galhos quebrados, não vai pousar,
vai habitar em cada detalhe da floresta,
tem patas, tem garras,
tem coragem de entrar onde outros só quiseram passar.

E o cárcere verde,
sempre terá algo para te lembrar que:
Floresta não é enfeite, é morada.

domingo, 4 de maio de 2025

Incendiar

Fósforo riscado num dia de chuva.
Sigo tentando — riscar e riscar —
no coração quente da madrugada.
Minha lareira com poucas madeiras,
e a porra do fósforo entre os dedos.
Cama virada. Porta batendo. Olho molhado.
E não acendia.

Me entreguei como quem se entrega ao trovão,
sabendo o estrondo.
Como quem quebra uma parede
sabendo o buraco que vai ficar.
Destruição. Caos. Amor?

A gente nunca foi feito pra ser leve.,
Sabíamos ser fogo pra acender cigarro em corpo suado,
pra jurar amor com gosto de mentira bonita na língua.
Com gosto de outra.

Fui tua porra.
Teu suor.
Teu gozo maldito.
E depois?
Depois virei cinzas.
Ausência.
Prisão.

Amores não vestem alianças — vestem cicatrizes.
Talvez a gente tenha nascido pra incendiar, não durar.
E isso não é menos bonito.
Só é verdade.

Verão Italiano.

O barulho do sino da vila ao longe, o azulejo frio sob os pés descalços, na tarde quente em um verão na Itália. Com teu olhar refletido n...