do jeito que você gostava —
céu limpo, sol brilhando no rosto.
Acordei te procurando na cama
e me lembrei da sua voz rouca dizendo:
“eu não te devo satisfação”.
Sorri, de coração leve,
porque agora realmente faz sentido que não.
Você some,
reaparece e se desmancha,
deixando as responsabilidades
escorrerem lentas pelos dedos,
como fumaça que se recusa a fixar forma.
Mas ainda assim,
quando desperta,
me procura —
como quem chama,
mas não sabe chegar,
como quem quer presença,
mas já nem habita o próprio corpo.
Uma solicitação,
travestida de urgência,
um desespero disfarçado de rotina,
uma súplica que não ousa dizer seu nome.
A manipulação,
antes capaz de dilacerar minhas costelas
e me arrancar o ar,
agora só passa —
leve, fria, como brisa,
como quem esfrega os dedos
num vidro embaçado,
mas não tem coragem de olhar além.
E eu só observo,
com essa serenidade que arde,
como quem sabe,
e mesmo sabendo,
permanece em silêncio,
porque, no fim,
nem se dá ao trabalho,
você está onde deveria estar.
Agora você sai,
chama outras pelos apelidos que eram só nossos,
com pressa, com corpos impacientes,
que te preenchem, mas sem tampar o que deixei,
como quem acha bonito esse teatrinho de desapego…
mas nem percebe o ridículo.
E eu só observo,
com esse nojo quieto,
meio triste,
meio aliviado,
sabendo que o vazio continua aí —
só você finge que não.
Que patético.
Eu não sou emboscada,
não sou escada,
não sou escudo.
Eu sou o antigo.
Perigo. Abrigo.
E mesmo que eu tenha tentado anos
te mostrar como era ser,
como era estar,
como fazermos acontecer,
você se enganou,
se cegou pra não ver,
conta a história que quer,
procura escapes pra fugir de si mesma.
Mas as consequências…
não esperaram o café da manhã.
Elas chegam com o estômago vazio,
pela falta da janta da noite anterior,
chegam com o amargo ruim na boca,
com ausência de cada palavra,
ausência de afeto —
elas chegam,
e você sequer notou
onde se perdeu.
Mas porra, as consequências...
não esperam o café da manhã.
Por isso, eu soluciono as minhas à noite,
com um gole de gin, para matar toda esperança que tenha você,
tudo que carrega seu nome, seu gosto, seu rosto,
os cinco anos que agora estão entalados
numa tábua de madeira.
E no meu café da manhã,
eu já não espero mais porra nenhuma de você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário